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o mesmo par de lichias fotografado outro dia e refotografado hoje
e assim mais tarde quando
me procure quem sabe a
morte angústia de quem
vive quem sabe
a solidão fim
de quem
ama
eu possa
me dizer do amor
que tive que não
seja imortal posto que
é chama
mas que seja
infinito enquanto
dure
Na última estrofe do famoso Soneto de fidelidade de Vinícius de Moraes, a palavra mágica é a conjunção temporal "enquanto". "Enquanto" tem algo do ar triste e do gosto ruim dos ameaçadores condicionais. Essa palavra, porém, nos lembra que toda matéria se inscreve completamente no tempo, sobretudo a matéria que constitui a nós mesmos, com nosso pesado invólucro corporal e tudo que dentro dele e para além dele - intangível - sonha, ama, pulsa... Se o tempo é o senhor das coisas e inexoravelmente tudo aniquila, a duração para além da nossa própria finitude deve ser da ordem da pretensão humana. O único tempo possível me parece ser o presente do indicativo, onde vivem o enquanto e o ainda: que não são ameaças à duração, mas trazem a possibilidade da completude da duração, quase um infinito, eu diria, assim mais humilde, mais modesto, mais chão... Dessa forma, posso dizer que, sim, eu creio nos amores eternos.
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moi aussi...!
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