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Jaques-Louis David. Psiquê abandonada. c1787.
Óleo sobre tela (inacabada); 80 x 63cm. Col. priv.
Sobre o amor e a terra, ainda...
O Amor e Alma são amantes desde a filosofia grega platônica, mas só tomaram forma literária com o latino Lucius Apuleius no século II. As Metamorfoses narram as aventuras e desventuras da ingênua Psiquê em seu caminho ascensional em direção ao Olimpo, o divino. Ao paraíso não se ascende sem pagar caro, obviamente, com muito sofrimento. E a narrativa Apuleiana é cheia das tintas passionais exacerbadas, dos desesperos e desatinos que os encontros e desencontros com o amor é capaz de provocar. E ei-la, Psiquê, abandonada por Amor, num dos pontos de virada da história. Ela conheceu o paraíso e acaba de perdê-lo. O amante bate as asas, e ela, exausta, escorrega para o chão, ficando ali, "jacente em terra, prostrada no chão" - "humi iacente, humi prostrata" - "atormentando a alma com lamentos."
Esta pintura inacabada do pintor neoclássico Jacques-Louis David (1748-1825) representa o momento doloroso vivido pela ingênua e estabanada personagem. Quando o Amor bate as asas, ela se vê de repente no chão, despojada de tudo, sem nada além de suas próprias roupas a seus pés. A escolha de David para o isolamento da figura agigantada em primeiro plano contra um fundo de paisagem de horizonte baixo amplia em nós a ideia da solidão e do desalento da moça. Ela torce as mãos como torcem os que perderam a razão, a alegria e a esperança ao mesmo tempo. Deixada a si mesma. Humi iacente.
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De humus (terra), aliás, vem 'humilhação', vem' humildade', porque a terra, o chão, é agora não mais o receptor de sementes que frutificam e alimentam, mas apenas o ponto baixo, o mais baixo que o ser humano, vertical e altivo, pode atingir.
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torcer as maõs... com muita frequencia realizo esse ato... acho que nunca estou com a razão perfeita... sempre estabanada e eufórica...
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