quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Lunitudes

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(silence...)
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.Fotos: Amarilis (Letícia). Uma tarde de agosto pelos caminhos da Estrada Real


quinta-feira, 19 de agosto de 2010

Solitudes

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(silence)




Fotos: Amarilis (Letícia). Uma tarde de agosto pelos caminhos da Estrada Real
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sábado, 14 de agosto de 2010

Harmonia

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De repente
de passagem abre-se o céu
e em descentrado abrigo

um sol no peito




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Harmonia: segundo o Houaiss, a palava vem do grego, significando 'união', 'acordo', 'ordem'...  "combinação de elementos ligados por uma relação de pertinência, que produz uma sensação agradável e de prazer"; "ausência de conflitos; paz, concórdia"; "conformidade entre coisas ou pessoas; concordância"...
Não por acaso, o termo é revestido de  muitas e sutis acepções dentro do universo das artes - arquitetura, música, literatura - indicando substancialmente, porém, uma feliz concordância entre elementos díspares na formação de um todo. Trata-se, em suma, de como as partes, pelo que são individualmente, plenas em si, quando colocadas a se relacionar dentro de um determinado limite, concorrem para a formação de um todo que  justamente por essa relação de plenos concordantes se enriquece, se engrandece. Essa relação é capaz de tocar as cordas de muitos sentidos, capaz de pacificar o caos, amenizar as angústias e, sobretudo, gerar beleza.

O autor da foto é um sujeito sem nome (vejam os créditos abaixo) que enxergou maravilhosamente bem a relação harmônica entre a parede azul ( superfície gasta, humilde) de uma igrejinha em Puebla, no México, e uma laranja. Relacionou o plano e a concavidade, a luz e a sombra, o azul e o laranja na medida exata para não brigarem (porque essas cores, complementares que são, tanto se atraem quanto se repelem), rimou formas circulares e semi-cirulares... Selecionou do mundo em torno de si um pequeno e delicioso quadro harmônico.





foto original por 'thefirstnoname' in http://www.flickr.com/photos/mathoms/1200688607/
texto: Amarilis|Letícia
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quinta-feira, 5 de agosto de 2010

Noa

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NOA


Nastro de céu rasto de luz
 abençoando
o dia




 


'Noa': a nona hora canônica, entre a sexta e as vésperas,
por volta de três horas da tarde.
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Imagem e texto: Amarilis (Letícia)
 Registro e memória da luz acolhedora que todas as tardes
 inunda a sala da minha casa
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quarta-feira, 4 de agosto de 2010

Matutino

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Matutino



Uma manhã dessas, eu conheci a poesia
Assim, de repente.
E a poesia, pra minha surpresa, não tinha palavras
Nem precisão
Era alvorada de sombra e luz movediças,
alternadas
À velocidade do automóvel
E ao recorte dos telhados
ainda orvalhados de sonhos
e de preguiça

 
Umas cabeças douradas, poucas,
Seguiam pelo mosaico luzente
do asfalto,
quando me rasgou o ventre,
aguda e improvisa,
a invernal lâmina
da memória
E arrancou de meus olhos –
porque sempre foram suas –
duas pedras roliças
de prata
e sal.




imagens e poema: Amarilis (Letícia)

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terça-feira, 3 de agosto de 2010

Agosto

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P.-P. Prud'hon. A imperatriz Josephine em Malmaison. 1805.
 Óleo sobre tela; 244x179cm. Paris, Museu do Louvre


Agosto

 

Olho-me no espelho, “plácido lago de chumbo” (quem disse isso?). Queria ser eu a de dentro, a que rompe espaços mesmo em muralhas e ignora de que matéria são feitas as dores.
Faço o laço da blusa cor de carne, delicadeza retrô – souvenir de 1800. Eu e minhas fragilidades ... (memória: uma pintura de Prud´hon, Josefina numa sombra de Malmaison – o olhar denuncia a dor antecipada pelo iminente abandono). Pura melancolia.
Os lábios descamam, feridos pelos dias de febre. Os olhos, de tão lavados, perderam paradoxalmente o brilho; uma base escura e inchada os contorna e os oferece assim, em destaque, à apreciação do mundo – que não me vê.
Um vinco novo atravessa a superfície vasta vasta da fronte (memória: Marguerite Duras falando da cartografia do rosto que apenas viveu; nenhum pesar pelo fugir do tempo).
O espelho aponta os cabelos lisos e, no meio deles, uns dois, três, talvez meia dúzia de fios brancos.
Da cartografia do rosto passo à topografia do resto.
Visto os jeans e observo o corpo seco, esse suporte da alma, tagarela e dedo-duro. Vão perceber que está oco dos joelhos para cima. Apanho no espelho a sombra espessa dos cacos tomando a extensão dos tornozelos, inflando as pernas, abrindo a pele em farpas estreladas.
Não sangram mais.
No poço negro das órbitas penduram-se os dois globos baços, que lentamente se voltam na direção do chão, com um discreto ranger. Encontram os pés, meus pequenos pés. Observo-os enquanto calço os sapatos (outro primor de beleza inútil) e rogo o esforço das juntas, todas, para transformar em verdade a necessidade do movimento - que é indicação de vida... Saio, enfim, tilintando fragmentos num equilíbrio impossível. O arrastar dos cacos ecoa insuportavelmente pelo deserto restante. 

Vão notar que eu não estou.
              
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