quarta-feira, 24 de agosto de 2011

O muro e a flor

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(...) 
Quem fez o amor não vazará meus olhos
porque busco a alegria.
A vida não vale nada,
por isso gastei meus bens,
fiz um grande banquete e este vestido.
Olha-me para que ardam os crisântemos
e morra a puta
que pariu minha tristeza.


(Adélia Prado. "Contra o muro", 
in O coração disparado)

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sexta-feira, 5 de agosto de 2011

Ínfimos faróis

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Um canto do quarto 15 do Casarão. junho de 2011



Vê: a luz, pela fresta,
estrela magnífica
e doméstica, vem,

acaso e matemática,
morder no copo
a água que dormiu à mesa.

Do corpo amado, da canção, 
de uma romã, de uma manhã qualquer
a lâmpada que se exala

pode não ser a morte da morte
e talvez não mostre a agulha perdida
na sala ou no tempo, mas

infringe, por ínfimo farol
que seja, certos escuros: um canto
do quarto, da dor, do olhar.

Dure apenas um minuto
a gema de um tal ardor,
sol tão pequeno,

há que se acender
em cada mínimo
a força da minúcia.


(Eucanaã Ferraz, in Desassombro)




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