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AULA DE VER
Meus olhos miúdos de menina
miraram o anjo soberbo de beleza
Sobre a lanterna da catedral.
Queriam passar a tesoura no anil do fundo
e resgatar a figura afogada
na aura de bronze
expandida ao sol
do crepúsculo estival.
Mas ficou fora de foco.
Porque das aulas de fotografia
eu tinha aprendido duas coisas:
a apanhar no vôo e sem permissão
a paixão que Ana lançava
em retalhos e fiapos ao engenheiro
(atento apenas às maravilhas
daquelas lições de arte
e de ignorância do amor);
e aprendi do ocaso
que este é feito de duas cores díspares
- amarelo e azul -
derramadas na hora única
em que a noite se anuncia
e abraça as ruas e casas
para onde voltam os homens,
sem saber ter inventado
a lâmpadas e velas
as molduras do aconchego
das janelas que eu sonho:
quadrados, retângulos, recortes
ovóides
acesos,
ferindo de morte o azul
diariamente
A pior hora a ser fotografada;
briga ferina de luzes
a desgostar o professor
num desperdício de poesia.
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Poeminha escrito pela Amarilis há muito tempo, recordando a época em que ela estudava artes plásticas na Unicamp e morava em Campinas-SP, terra que adotou e da qual sente imensa saudade. Quando Amarilis foi estudar história da arte, conheceu um autor de suma importância para a disciplina chamado Giorgio Vasari, que era muito mas nuuuuito 'campanilista'. Esta última palavra é italiana, mas Amarilis gostou dela (que tem imagem e até imagem de som...) e a incorporou desde sempre ao seu próprio vocabulário. Vem de 'campanile' (que vem de 'campana': sino), o campanário (ou, em barroco-mineirês, 'torre-sineira') das igrejas italianas. Sendo as igrejas frequentemente as mais louváveis e belas arquiteturas presentes nas cidades medievais, o campanário evidentemente assumiu desde então uma imagem de referência à própria cidade na qual estava erigido. Daí o campanilismo ser, em bom português, o nosso 'bairrismo': um certo ufanismo em relação à terra natal, algo por aí...
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Fotografia original de Alex Costa em http://www.flickr.com/photos/alexcosta/4509152957/, cortada, mexida e revirada por Amarilis, retratando a linda (sim) catedral metropolitana de Campinas, dedicada à Nossa Senhora da Conceição. Observe-se que o anjo da fotografia não está sobre a lanterna, o que foi apenas uma licença, e nem tão poética assim...
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