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Cena de La belle et la bête, filme de Jean Cocteau (1946)
"(...) Donde nova visão do eu-te-amo. Nao é um sintoma, é uma ação. Pronuncio para que você responda, e a forma escrupulosa (a letra) da resposta revestirá um valor efetivo, ao modo de uma fórmula. Não é pois suficiente que o outro me responda com um simples significado, mesmo que positivo ("eu tambem"): é preciso que o sujeito interpelado assuma formular, proferir o eu-te-amo que lhe estou estendendo: Eu te amo, diz Pélias - Eu tambem te amo, diz Melisande. A exigência imperiosa de Pélias (supondo-se que a resposta de Melisande tenha sido exatamente a que ele esperava, o que e provável, pois que ele morre imediatamente depois) parte da necessidade, para o sujeito amoroso, não apenas de ser igualmente amado, de sabê-lo, e de ter absoluta certeza disso, etc. (todas as operações que não excedem o plano do significado), mas também de ouvi-lo dizer, de uma forma tão afirmativa, tão completa, tão articulada quanto a sua própria; o que quero é receber de cara, inteiramente, literalmente, sem rodeios, a fórmula, o arquétipo da palavra de amor: sem delongas sintáticas, sem variações: que as duas palavras se respondam em bloco, coincidindo significante por significante ('Eu tambem' seria exatamente o contrário de uma holofrase); o que importa e a proferição física, corporal, labial da palavra: abra os lábios e que a palavra deles saia (seja obsceno). O que quero, desesperadamente, é obter a palavra. Mágico, mítico? A Fera - retida encantada em sua feiúra - ama a Bela; a Bela, evidentemente, não ama a Fera, mas, no final, vencida (pouco importa pelo que; digamos: pelas conversas que tem com a Fera), ela lhe diz a palavra mágica: "Eu a amo, Fera"; e imediatameme, através do dilacerar suntuoso de um toque de harpa, um sujeito novo aparece. (...)"
(Roland Barthes, in Fragmentos de um discurso amoroso)
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