sábado, 16 de abril de 2011

Beware of...

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Marc Chagall. Lovers in the Lilacs. 1930.
 Oleo sobre tela. Richard S. Zeisler Collection, New York




O amor quer abraçar e não pode.
A multidão em volta,
com seus olhos cediços,
põe caco de vidro no muro
para o amor desistir.
O amor usa o correio,
o correio trapaceia,
a carta não chega,
o amor fica sem saber se é ou não é.
O amor pega o cavalo,
desembarca do trem,
chega na porta cansado
de tanto caminhar a pé.
Fala a palavra açucena,
pede água, bebe café,
dorme na sua preseça,
chupa bala de hortelã.
Tudo manha, truque, engenho:
é descuidar, o amor te pega,
te come, te molha todo.
Mas água o amor não é.


(Adélia Prado. "Corridinho", in O coração disparado)
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Um comentário:

  1. Arte Poética

    Palavras,
    só palavras, nada mais
    que a vã matéria, o seu sentido
    eco de muitos ecos, repetido
    reflexo de poderes tão irreais

    como essas emoções graças às quais
    terei de vez em quando pretendido
    dizer um só segredo a um só ouvido
    ciente de que nunca são iguais

    os segredos e ouvidos que procuro
    às cegas neste mar sempre obscuro
    onde a voz desagua como um rio

    sem nascente nem foz - apenas uma
    incerta confidência que se esfuma
    e só foi minha enquanto me fugiu.

    Fernando Pinto do Amaral

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