segunda-feira, 17 de maio de 2010

Ele mesmo, o Amor

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Vincent van Gogh. O semeador. nov. de 1888.
Óleo sobre tela; 32x40cm. Amsterdã, Museu van Gogh



Este transcrevo de um autor por quem sou apaixonada,
Affonso Romano de Sant'Anna:


       "Quem sabe o significado das palavras vive mais densa e duplamente. Vive quando vive e vive quando palavreia.
       E se amar é bom, saber o sentido da palavra amor é amar mais finamente. Por isso dou um doce a quem me disser de onde vem a palavra amor.
      Já sei, você vai pensar: vem do latim amorem, significando afeição, simpatia e carinho. Ou, então, vai dizer: não me interessa. O que conta é amar. (...)
       Aprendo com Bent Paroli que a raiz da palavra amor é egípcia e não latina. Também nada tem a ver com o "ama" grego, embora este signifique "juntos". Os gregos também falam de "eros", mas a raiz dessa palavra indica "atividade".
       O vocabulário egípcio traz a raiz MR, MRJ. Parece estranho. Os egípcios não usavam vogal. Mas eles escreviam assim e na hora de pronunciar, a vogal aparecia. E o fato é que MR se pronunciava "amer", "amor". Escrita com hieróglifos a palavra MR era representada por uma espécie de pá ou cavadeira de camponês abrindo a terra. Há um sentido agrário de fecundação cósmica. Amor, então, era como um ato de cultivar a terra."

(Affonso Romano de Sant'Anna. "Entre outras palavras, o amor", in Que presente te dar)


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Irmãos Limbourg. Les Très Riches Heurs du duc de Berry. Outubro.
1412-1416. Iuminação s/ pergaminho; 22,5x13cm. Chantilly, Musée Condé

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E vejam só quem já sabia disso:


Lindo demais
Coração é terra que ninguém vê 

Quis ser um dia jardineira
de um coração.
Sachei, mondei - nada colhi.
Nasceram espinhos
e nos espinhos me feri.

Quis ser um dia jardineira
de um coração.
Cavei, plantei.
Na terra ingrata
nada criei.

Semeador da Parábola...
Lancei a boa semente
a gestos largos...
Aves do céu levaram.
Espinhos do chão cobriram.
O resto se perdeu
na terra dura
da ingratidão

Coração é terra que ninguém vê
- diz o ditado.
Plantei, reguei, nada deu, não.
Terra de lagedo, de pedregulho,
- teu coração. Bati na porta de um coração.
Bati. Bati. Nada escutei.
Casa vazia. Porta fechada,
foi que encontrei...

Cora Coralina

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2 comentários:

  1. Letícia querida,
    Cora Coralina captou a essência da esterilidade (insensibilidade) de alguns corações. O amor é sempre uma via de mão dupla.
    Amo você amiga!
    Tenha uma semana muito feliz!

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  2. Que lindo o poema da Cora, Letícia, e é como dizem: o poeta sabe das coisas. Muito bom vir aqui e ver tanta coisa bonita. Grande abraço.

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