(...) De toda forma, a pintura de naturezas-mortas atinge seu auge no século XVII, em pleno período Barroco, por toda a Europa. Mas enquanto as naturezas-mortas produzidas pelo universo católico são quase sempre cifradas, simbólicas, aquelas que povoam o mundo nórdico protestante são muito frequentemente manifestações de virtuosismo do pintor somadas à vaidade do comitente, que desejava expor objetos e mercadorias que tinha em posse ou desfrute. Burgueses, comerciantes enriquecidos no chamado ‘século de ouro’, os holandeses contavam ainda com a concordância divina, que abençoava a riqueza material. E mais: senhores do comércio marítimo, traziam produtos de longe, dos lugares mais exóticos, interessavam-se em saber o que o Novo Mundo possuía. Albert Eckhout, um holandês da corte de Maurício de Nassau esteve aqui no Brasil, trabalhando suas naturezas-mortas com aquele olhar cuidadoso e curioso dos artistas de sua terra, para quem o ato de ver se confunde com o de conhecer.
É assim que a história da arte se vê diante de um século pródigo em naturezas-mortas feitas de cintilações, de brilhos inesperados de prata e cristal, de ricas e macias toalhas de seda ou de pesado e granulado damasco, de iguarias trazidas de muito longe, lagostas e ostras, e de mesas de banquete desfeitas, onde a abundância se revela também no volume das sobras. Exibição da riqueza, do fausto, do luxo. Essas naturezas-mortas são chamadas pronkstilleven; pronk significando, justamente, ‘ostentação’. O resultado é hipnótico: todo o universo palpável parece concentrado nessa pintura da variedade material. O olhar não descansa enquanto não lê cada elemento, enquanto não identifica e cataloga cada objeto. É impossível não apreciar tamanha destreza e variedade e não se encantar com uma arte que leva o mais longe possível a antiga idéia da mimesis. Um dos indiscutíveis mestres desse gênero foi Willem Kalf (1619-1693), como se observa nos detalhes da louça chinesa, dos artefatos de metal e na textura da laranja semidescascada desta sua natureza-morta.
W. Kalf. Natureza-morta com louça. 1662.
Óleo sobre tela; 79 x 67cm. Madri, Thyssen-Bornemisza
W. Claesz Heda. Desjejum com bule. 1635.
Óleo sobre madeira; 88x113cm. Amsterdã, Rijksmuseum
Não se pode afirmar, entretanto, que as naturezas-mortas holandesas do século XVII sejam sempre privadas de significados simbólicos, mesmo porque as chaves de leitura simbólica em arte estão presentes em todo o mundo cristão desde seu início. Contudo, ao tomarmos esse universo das naturezas-mortas holandesas como referência e o compararmos com a pintura de mesmo gênero desenvolvida concomitantemente em países católicos, uma clara diferença é evidenciada: a maior sobriedade. O extremo dessa interpretação ‘econômica’ e simples pode ser visto, acredito, em exemplos provenientes da Espanha(...)
curti hor-ro-res!
ResponderExcluircomo é esse lance de vc escrever num blog? como é q vc vê isso, escrever e lançar na net q é um veículo com todo esse alcance?
Adoooooooro escrever. Mas aqui nem estou 'escrevendo' mesmo. É só pra brincar com palavras e imagens de que gosto.
ResponderExcluirAcho ótimo poder jogar isso tudo na net e ver que tem gente que pode curtir hor-ro-res.
Adorei o comentário.
beijo