sexta-feira, 8 de julho de 2011

Débris

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Egon Schiele. Cerâmica. 1918. Aquarela. coleção privada



À force de me cogner
contre tes murs
je me sens devenir
un gros éléphant gris
barrissant tristement
dans ton salon,
cassant par inadvertance
les Wedgwood de l’oncle Pierre,
la soupière K’ang-hi de grand-mère
et tout le service de la Compagnie des Indes
du cousin Antoine.
C’est ça le drame, quant on est
un gros éléphant gris
esseulé et maladroit :
le propre poids de l’inertie
peut casser bien des choses,
le désir, l’indifférence,
les porcelaines, le silence,
l’absence, toi, moi,
mais pas tes murs.
Ma grosse tête éléphantine
continuera inlassablement, stupidement
à cogner dessus
ad nauseam.
 

(Isabel Meyrelles, in Poesia, 2004)

°°

De tanto me chocar
contra teus muros
Sinto-me a me transformar
num grande elefante cinza
tristemente  bramindo
em tua sala
quebrando por inadvertência
os Wedgwood do tio Pedro
a sopeira K’ang-hi da avó
e todo o serviço da Companhia das Índias
do primo Antônio.
Esse é o drama, quando se é
um grande elefante cinza
segregado e desajeitado:
o próprio peso da inércia
pode realmente quebrar coisas
o desejo, a indiferença
a porcelana, o silêncio
a ausência, você, eu
mas não teus muros.
Minha grande cabeça elefantina
continuará incansavelmente, estupidamente
a bater
ad nauseam.




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