terça-feira, 29 de março de 2011

Prêmio Kreativ Blogger

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Agradeço ao meu querido amigo Paulo Barja,
dos Cordéis joseenses (http://www.cordeisjoseenses.blogspot.com/
a indicação para o prêmio Kreativ Blogger.





 As regras, após receber o prêmio, são:

1) Selecionar outros 10 blogs merecedores do prêmio
2) Notificar os prêmios no blog
3) Responder: quais as 10 coisas que gosto sempre de partilhar



Eis os blogs  que eu indico ao prêmio
 (sorry, apenas quatro, que não conheço muito a blogosfera):




e as coisas que gosto de compartilhar aqui sempre,
que são muitas, mas se resumem a uma única:


Beleza BelezaBelezaBelezaBelezaBeleza Beleza



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domingo, 27 de março de 2011

Esporte radical

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Marc Chagall. Os três acrobatas. 1926.
óleo sobre tela. Coleção privada.



Só tenho cinco reais
pra misturar com farinha a confiança
de que para Deus são iguais
banquete e fome.
Glórias a Ele que só sabe o que faz
quando eu mesma Lhe digo.
Se não peço o pão nosso,
me deixa na penúria,
relendo com desaponto o Livro Santo.
Tomo liberdades, jogo no sanitário
o remédio de tarja preta
para ver no que dá.
Gosto de quem me bate,
é como estar na igreja destelhada,
o padre morto,
o Livro Santo queimado.



(Adélia Prado. "Esporte radical", in A duração do dia.)

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sábado, 26 de março de 2011

Techné

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Machadinha paleolítica polida. c. "1 million years old" (dados do museu). Elveden, Suffolk, UK. University of Cambridge, Museum of Archaeology and Anthropology. Segundo Julian Bell, in  Uma nova história da Arte, 2008, a peça finalizada tem entre 250 e 100 mil anos.



Confesso: essa peça singela me comove tanto quanto a grandiosidade da cúpula de Santa Maria dei Fiori, a catedral de Florença (1436), obra quase mágica resultante do intelecto de um único ser humano, ou quanto a junção de talento e tecnologia que tem composto coisas como o impressionante viaduto Millau na França (2004).

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sexta-feira, 25 de março de 2011

O poder da palavra

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Toth-íbis, em cena do Livro dos mortos de Ani. Papiro de c.1275 a.C.
Londres, British  Museum




O deus egípcio Toth,
frequentemente em forma híbrida de homem e íbis,
é quem escreve o nome do faraó numa folha;
enquanto ele não o faz, o faraó não existe:
tal é o poder da palavra.

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quinta-feira, 24 de março de 2011

Obstante

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Georgia O'Keeffe. Series I, N.8. 1919.
Óleo sobre tela; 50,8x40,6cm. Munique, Städtische Galerie im Lenbachhaus




Não é o coração
mas esta carne
em seu rumor.

Não é o coração
mas teu silêncio
de intenso furor.

Não é o coração
mas as mãos
sem corpo, vazias.
Na grave melodia
de um instante
tu e eu
em desequilíbrio
na infame
consistência
de um absoluto
obstáculo.

 
(Ana Marques Gastão. "Não é o coração",
in Nocturnos - Canções com palavras, 2002)
 
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terça-feira, 22 de março de 2011

Exaustão

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Henri Füssli. Silence. 1799-1801.
Óleo sobre tela; 63,5 x 51,5cm. Zurique, Kunsthaus



Eu quero uma licença de dormir,
perdão pra descansar horas a fio,
sem ao menos sonhar
a leve palha de um pequeno sonho.
Quero o que antes da vida
foi o profundo sono das espécies,
a graça de um estado.
Semente.
Muito mais que raízes.




Adélia Prado. "Exausto", in Bagagem

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segunda-feira, 21 de março de 2011

Outonal

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(É chegada, enfim, a estação que eu amo)


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Théodore Rousseau. Outono em St. Jean de Paris, floresta de Fontainebleau.
1846. Óleo sobre tela; 63,5x54,9cm. The Minneapolis Institute of Arts



Go, sit upon the lofty hill,
And turn your eyes around,
Where waving woods and waters wild
Do hymn an autumn sound.
The summer sun is faint on them -
The summer flowers depart -
Sit still - as all transform'd to stone,
Except your musing heart (...)



(Elizabeth Barrett Browning, Autumn)

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domingo, 20 de março de 2011

Vão

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Se estou do lado de cá, paisagem; do lado de lá, cena de interior (ou, com sorte, cena de gênero).
Tudo é o mesmo, tudo é igual - e indiferente. Mudo eu. Mas o instrumento da mudança é a moldura do nada, um vão, carregando meus olhos de novas formas, novas luzes, outras texturas e cores - todas vãs.


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Tiradentes, outubro de 2009




"(...) A janela cria pinturas
que vivem poucas horas
e nunca se incomoda
pois a vida é transitória."


(Heitor Ferraz Mello. "A Janela", in Coisas imediatas)

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domingo, 13 de março de 2011

Arqueologia

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Giorgio De Chirico. Os arqueólogos. 1968.
Óleo sobre tela; 84,5 X 64,5 cm. Roma, Fondazione Giorgio e Isa de Chirico




Há tempos, parece,
em que o meu avesso se desdobra
e por qualquer esguia fresta
vaza
derrama-se inteiro –
líquida luz sobre a paisagem.


Noutros, janelas cerradas,
torno à revelha história,
torno-me ouvidos:
sigo os ecos de um incessante revirar –
escombros poeira refugos
os muros do velho jardim
decaído.


E então sou olhos,
olhos me espreitando
atravessar os dias
becos soturnos fugentes vias
no fundo de minha memória
ínvia.





 
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segunda-feira, 7 de março de 2011

Expressionismo abstrato

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Não, não é um Rothko de verdade, mas é quase. O original:
Sem título. 1954. Óleo sobre tela; 236,2 x 142,7cm. Yale University Art Gallery




Novamente tomo emprestada a poesia de Adélia Prado,
com quem percebo, maravilhada, a afinidade de um certo olhar-sentimento
de pintora, colorista, sobre o mundo, os sentimentos, as palavras.
Sinestesias...





AZUL SOBRE AMARELO,
MARAVILHA E ROXO



Desejo, como quem sente fome ou sede,
um caminho de areia margeado de boninas,
onde só cabem a bicicleta e seu dono.
Desejo, com uma funda saudade
de homem ficado órfão pequenino,
um regaço e o acalanto, a amorosa tenaz de uns dedos
para um forte carinho em minha nuca.
Brotam  os matinhos depois da chuva,
brotam os desejos do corpo.
Na alma, o querer de um mundo tão pequeno
como o que tem nas mãos o Menino Jesus de Praga.



(Adélia Prado. "Azul sobre amarelo, maravilha e roxo",
in Bagagem)


domingo, 6 de março de 2011

Compreender a marcha

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.Aos que creem que perderam o caminho.
Aos que creem que existem muitos caminhos
ou que existe um caminho certo e outro errado.
Aos que empacaram no meio do caminho
e já não veem mais caminho algum,


o pequeno poema do poeta sevilhano Antonio Machado:



Na estrada de terra pra Arcângelo. Agosto de 2009



Caminante, son tus huellas
el camino, y nada más;
caminante, no hay camino,
se hace camino al andar.
Al andar se hace camino,
y al volver la vista atrás
se ve la senda que nunca
se ha de volver a pisar...


Caminhante, são teus rastos
o caminho, e nada mais;
caminhante, não há caminho,
o caminho se faz ao caminhar.
Ao caminhar faz-se o caminho,
e ao olhar para trás
vê-se a senda que jamais
se há-de voltar a pisar...


(Antonio Machado, 1875-1939)


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quinta-feira, 3 de março de 2011

Dezesseis

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Edgar Degas. Estudo de céu. c.1869. pastel. col priv.



À minha filha, Isabela, que hoje completa dezesseis anos, eu daria o céu.
Vinda de mim, parte de mim, foi companheira inseparável e fiel por todo esse tempo. Saímos juntas, e sozinhas, para a vida quando ela tinha só cinco anos. Com ela eu aprendi o que a palavra amor significa, aprendi a amar ainda mais a minha própria mãe e a dar um novo significado à palavra família. Com ela, descobri o quanto eu gosto de rir, e nunca rio tão gostosamente quanto como rio com ela.
Ela sempre me diz que nunca vai me deixar sozinha. Quando era bem pequenininha, costumava dizer que quando se casasse faria um quarto com uma triliche - a terceira cama para mim... Mas este ano já estamos aprontando suas asas, planejando seu primeiro voo solo. E sei que logo estarei assistindo-a erguer seu pescoço de cisne, despregar as asas e cruzar um oceano.
Assim, de repente, vai ao céu que ela própria escolheu.



Eu, conferindo se todos os dedinhos dela estavam ali.
Estavam, sim.
Agora só me resta conferir se asas estão firmes...

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