sábado, 18 de dezembro de 2010

Natalina

.
.
.

Albert Dürer. A Virgem e o Menino entre os animais. 1503.
Pena, nanquim e aquarela; 32,1x23,4cm.
Viena, Graphische Sammlung Albertina




Desde o advento da internet e, com ele, a possibilidade de colecionar imagens digitais, criei o hábito de enviar aos amigos todos os anos nesta época natalina alguma reprodução de obra de arte de espírito afim.
Uma das primeiras imagens que 'descobri' então foi esta: um desenho do grande pintor e gravador alemão Albert Dürer, um dos maiores nomes da história da arte.
Esta imagem é uma jóia em muitos aspectos. Numa pequena folha de 32x24cm, Dürer coloca harmoniosamente o grupo sagrado da Virgem com o Menino numa paisagem repleta de motivos simbólicos interpretados por aquele seu olhar nórdico, detalhista, acurado, capaz de hipnotizar o observador. E a cada vez que passamos o olhar pelo desenho encontramos algo que não tínhamos visto antes. Há uma profusão de espécies animais e vegetais interpretada com a precisão naturalista do mestre de Nuremberg: corujas, patos, pintassilgo, garça, arara (!!!), cães, raposa, veados, camelos, ovelhas, cavalos, borboleta, rosas, íris, e por aí...
A paisagem construída é interpretada com o mesmo cuidado: de um casebre à direita, sai o velho José, de longa barba, encurvado _ personagem resignada -, apoiado em sua bengala, essa figura simpática, quase sempre relegada aos fundos das composições, pelo menos até esse período.





Ainda no fundo, entre o casebre e a Virgem, vemos um rebanho de ovelhas e seus pastores. Estes erguem os olhares e os braços ao céu, ao receber do anjo a anunciação do nascimento do salvador. E o anjo (panejado à alemã, quase uma escultura de tecido) vem destacado por uma nuvem, que se aproxima da terra em remoinhos...




Um casebre ainda mais humilde é visto à esquerda da Madona, e se seguirmos por ele, chegaremos à cidade que se amontoa entre as montanhas e o porto. Sim, há navios ancorados ali, e dali parece ter chegado um dos reis magos, que, com seu séquito, já toma o rumo em direção ao Menino.  Os outros dois reis vêm por dois caminhozinhos diversos nascidos da montanha ao centro, acima da cabeça da Virgem. Estão chegando, os três. E sobre estes, a estrela, solitária e alta, que coroa a belíssima composição.


Este desenho de Dürer é uma imagem natalina completa. Somente um mestre poderia ordenar com tanta harmonia uma profusão tão grande de detalhes (narrativos, precisos e simbólicos) numa única composição. Sua mestria é comprovada pelo fato de que, inicialmente, percebemos apenas o grupo central da Virgem com o Menino, e somente aos poucos vamos ampliando e nos maravilhando com os fatos e dados dessa adorável história.





.

Nenhum comentário:

Postar um comentário