quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Alegoria

.
.
.




A inusitada porta da igreja de San Augustín de Quito, no Equador, me fez sonhar. Não há absolutamente nada aqui que sequer evoque as sombrias ameaças românicas de lançamentos ao inferno, nem ninguém julgando, ninguém condenando, ninguém se dizendo ser a própria porta...


Sobre duas folhas de madeira pintadas de vermelho profundo, estão dispostos em fileiras alinhadas diversos corações de metal. Corações alados, que criam um padrão decorativo vivaz e muito original.
O motivo é um atributo de Santo Agostinho, o bispo de Hipona, o doutor da igreja, a quem o santuário é dedicado.

("Nos has hecho para ti, Señor, y nuestro corazón estará insatisfecho hasta que descanse en ti" )








Mas eu prefiro deixar de lado as questões iconográficas e cristãs para pensar simplesmente noutra porta, mais acolhedora.
A porta é o convite para entrar, a possibilidade de abrigo e, ao mesmo tempo, de liberdade, a indicação de um caminho, o lugar da recepção, o entremeio... E sobre esta aqui se expõem, planos, evidenciados e simples, os corações, que assim se oferecem, se doam, enquanto convidam.

  

Com esta porta, eu sonho.
Por esta porta, eu entraria.







2 comentários:

  1. não é o homem que escolhe, mas a porta.
    Borges.
    Tem um conto tb no Otras Inquisiciones q me foi suscitado por essa tua foto e pelas palavras tuas dela.
    bj.
    cass.

    ResponderExcluir
  2. Pois eu nunca me esqueci dessa frase que você me disse uma dia, há muito tempo, Cass, sabia? Só não me lembrava que era do Borges. É muito boa!
    Beijo

    ResponderExcluir