segunda-feira, 9 de janeiro de 2012

quiçá, quiçá, quiçá...



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Edvard Munch. O sol. c.1912.




Talvez o nosso mundo se convexe
Na matriz positiva doutra esfera.

Talvez no interspaço que medeia
Se permutem secretas migrações.

Talvez a cotovia, quando sobe,
Outros ninhos procure, ou outro sol.

Talvez a cerva branca do meu sonho
Do côncavo rebanho se perdesse.

Talvez do eco dum distante canto
Nascesse a poesia que fazemos.

Talvez só amor seja o que temos,
Talvez a nossa coroa, o nosso manto.


(José Saramago, 
in Os poemas possíveis, 1981)

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2 comentários:

  1. Que belo presente aos olhos e aos sentidos da alma! Uma imagem de Munch e os versos de Saramago...
    Uma escolha repleta de luz solar e amor pelas coisas da vida.
    Beijos.
    Genny

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