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To whom I owe the leaping delight
that quickens my senses in our waking time
and the rhythm that governs the repose of our sleepingtime...
(T. S. Eliot)
Certa vez, muitíssimos anos atrás, a noite nos apanhou, a mim e a meu ex-marido, namorando a casa que estávamos construindo. De projeto ambicioso, nunca ficava pronta, nunca parava de exigir dinheiro. Anos construindo, ansiando dia após dia, mês após mês, por ver o resultado acabado. Naquele finzinho de tarde, me lembro bem da emoção que senti quando vi, pela primeira vez, a luz acesa lá dentro. Pensei comigo: agora essa casa tem alma, agora tem vida, agora é uma casa, não mais uma obra.
E disso os antigos sabiam: é o fogo - luz e calor - que dá vida à casa. Os gregos criaram Héstia, a deusa filha de Cronos, da primeiríssima geração olímpica: é a personificação da chama sagrada que protege, enquanto aquece e ilumina, os lares; a chama em torno da qual a família se reúne e se aconchega. As residências gregas possuíam um altar onde noite e dia uma chama era cuidada, mantida viva. A palavra 'lar', aliás, vem de 'lareira', denotando a mesma ideia trazida por Héstia.
Nada conforta mais o homem do que a simples vista de sua casa iluminada quando a noite avança. É nesse instante que a casa, o edifício inanimado, se transforma em lar.
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