quinta-feira, 16 de fevereiro de 2012

zoom

.
.
.

Detalhe de um casarão em ruínas em Cairu (BA)


"Gosto imensamente destes grandes silêncios, porque então ouço-me a mim mesma, e vivo mais em cinco minutos de solidão do que em vinte horas de bulício", diz Raquel, personagem do conto "Ponto de vista" de Machado de Assis.

Eu também gosto imensamente dos grandes silêncios, os sublimes, desses que aparecem no confronto muitas vezes insuspeitado com a paisagem vasta, quando, apequenados, só conseguimos pensar no trabalho de uma mão divina. Mas amo os silêncios miúdos, cotidianos, ordinários, esses justamente que passam despercebidos: a história contada pelo vazio entrevisto na janela do imponente casarão em ruínas, os passarinhos ritmando o vazio das arcadas do velho claustro do convento franciscano... Miudezas que me chamam a mim e reinventam o silêncio.




O claustro do convento franciscano de Cairu (BA)

.
.

terça-feira, 14 de fevereiro de 2012

...e reverdeço

.
(No dia de São Valentim. 
Porque o amor se renova)

.
Mark Rothko. Sem título. 1952. Óleo sobre tela; 75.2 x 166.4 cm. 
Washington, National Gallery of Art



Amor chagado, de púrpura, de desejo
Pontilhado. Volto à seiva de cordas
Da guitarra e recheio de sons o teu jazigo.
Volto empoeirada de vestígios, arvoredo de ouro
Do que fomos, gotas de sal na planície do olvido
Para reacender a tua fome.

Amor de sombras de ocasos e de ovelhas.
Volto como quem soma a vida inteira
A todos os outonos. Volto novíssima, incoerente
Cógnita
Como quem vê e escuta o cerne da semente
E da altura de dentro já lhe sabe o nome.

E reverdeço
No rosa de umas tangerinas
E nos azuis de todos os começos.


(Hilda Hilst, Amavisse, 
IX, in Do desejo)


Mark Rothko. Green and Maroon, 1953. Óleo sobre tela; 91 x54". 
Nova York, Phillips Collection
.
.